Mi casa es su casa
A forma entusiástica como José Sócrates recebeu Hugo Chávez diz tudo do primeiro-ministro que temos. Eu sei que a diplomacia obriga a muitos amargos de boca, tolera o intolerável, só que o eufórico Sócrates ultrapassa todas as marcas. Portugal pode usar de toda a cautela por causa do mais de milhão e meio de portugueses e luso-descendentes na Venezuela, pode também estar muito interessado numa parceria entre a Galp e a o estado venezuelano, até pode querer que a língua portuguesa seja ensinada nas escolas. Não pode é esquecer os exageros de linguagem de Chávez na Cimeira Ibero-Americana há menos de 15 dias, onde o socialista revolucionário e populista chamou "fascista" a José Maria Aznar e acusou as empresas espanholas de estarem envolvidas no golpe da Venezuela. E também não é nada bom sinal que Chávez aterre em Lisboa a exigir um pedido de desculpas de Juan Carlos de Borbón. Sócrates devia ter evitado o espectáculo "chavista" na capital portuguesa, em plena presidência da União Europeia. Fechava os negócios discretamente e poupava-nos à vergonha de até afirmar que Chávez em Portugal deve sentir-se em casa. Sobretudo quando milhares e milhares de emigrantes estão preocupados com a possibilidade de não se sentirem em casa depois do referendo constitucional de 2 de Dezembro. É que no dia 3, e com as mexidas que Chávez quer introduzir no direito de propriedade, muitos desses portugueses podem nem ter casa. E vêm aterrar na Portela, numa segunda versão do pós-guerra colonial. Serão os retornados do século XXI. E que bonita imagem do País se daria a à Europa...