Não há pão para malucos
Fala-se da depressão como de uma epidemia. Segundo a O.M.S., esta será, num futuro próximo, a segunda doença mais incapacitante, já que a sua incidência não pára de aumentar em todo o mundo.
Quando saltam para os jornais dados estatísticos sobre este assunto – e foi agora o caso, a propósito do III Congresso Nacional de Psiquiatria que decorreu há dias no Estoril – logo se avançam teorias para explicar o fenómeno: a vida está cada vez mais difícil, a pressão é constante, a instabilidade na família e no emprego uma ameaça ao nosso equilíbrio emocional. Também já ninguém ignora quais são os sinais da doença e o sofrimento que provoca, levando as pessoas, em casos limite, ao suicídio.
A compreensão parece ser total, a familiaridade com o problema inquestionável. No entanto, quem conhece casos destes – infelizmente eu conheço – sabe que em Portugal as pessoas que sofrem de depressão vivem num inferno. E em boa parte, porque a saúde mental neste país é de uma vacuidade gritante. A psicoterapia – fundamental no tratamento da depressão – é considerada pelo Serviço Nacional de Saúde um luxo. Há muitos centros de saúde que não têm sequer consultas de Psicologia e muitos dos que têm estão a rebentar pelas costuras.
Nos hospitais a dificuldade é a mesma. Espera-se demasiado tempo por uma primeira consulta. Restam os calmantes e anti-depressivos, que sem apoio psicológico só servem para criar uma nova classe de drogados, os drogados com licença para se drunfarem ou para se speedarem conforme as horas do dia e os dias da semana. Há cada vez mais gente à minha volta a viver assim. Movida a comprimidos, devidamente receitados na consulta de Psiquiatria. Porque para se tratarem a sério não têm dinheiro e no Serviço Nacional de Saúde não há pão para malucos...
Notas:
Quando saltam para os jornais dados estatísticos sobre este assunto – e foi agora o caso, a propósito do III Congresso Nacional de Psiquiatria que decorreu há dias no Estoril – logo se avançam teorias para explicar o fenómeno: a vida está cada vez mais difícil, a pressão é constante, a instabilidade na família e no emprego uma ameaça ao nosso equilíbrio emocional. Também já ninguém ignora quais são os sinais da doença e o sofrimento que provoca, levando as pessoas, em casos limite, ao suicídio.
A compreensão parece ser total, a familiaridade com o problema inquestionável. No entanto, quem conhece casos destes – infelizmente eu conheço – sabe que em Portugal as pessoas que sofrem de depressão vivem num inferno. E em boa parte, porque a saúde mental neste país é de uma vacuidade gritante. A psicoterapia – fundamental no tratamento da depressão – é considerada pelo Serviço Nacional de Saúde um luxo. Há muitos centros de saúde que não têm sequer consultas de Psicologia e muitos dos que têm estão a rebentar pelas costuras.
Nos hospitais a dificuldade é a mesma. Espera-se demasiado tempo por uma primeira consulta. Restam os calmantes e anti-depressivos, que sem apoio psicológico só servem para criar uma nova classe de drogados, os drogados com licença para se drunfarem ou para se speedarem conforme as horas do dia e os dias da semana. Há cada vez mais gente à minha volta a viver assim. Movida a comprimidos, devidamente receitados na consulta de Psiquiatria. Porque para se tratarem a sério não têm dinheiro e no Serviço Nacional de Saúde não há pão para malucos...
Notas:
- Na última década, segundo dados da indústria farmacêutica, o consumo de anti-depressivos em Portugal duplicou
- De acordo com estudo apresentado neste congresso, cerca de 20% dos portugueses sofrem de depressão