De quem é a rua, afinal?
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Lembrei-me de um artigo de Gomes Canotilho, "Uma peregrinação constitucional pela rua da interioridade", e fui lá buscar este bocado: "A rua era o lugar das pessoas e das coisas. Para um jurista, era um verdadeiro alfobre de direitos. É triste reconhecê-lo: a cidade matou a rua, já não há direitos da rua e na rua. A rua já não tem a alegria do primeiro vagido nem a angústia do último suspiro".
A maior árvore de Natal do Mundo, os desfiles de aniversário na Avenida, os filmes, anúncios e mais não sei quê, o assadouro de castanhas no Terreiro do Paço e tudo aquilo que nos priva da rua tem um efeito humilhante: mostra-nos que a rua não é nossa, é "deles".
É preciso estar atento. Nunca sabemos quando vamos precisar de sair para a rua e só nessa altura reparar que já nem isso é possível.