Há esquerdas e esquerdas
Concordo em pleno com o texto do Pedro, aqui em baixo. Estive a ler o Vargas Llosa e na realidade ali está quase tudo sobre o infeliz episódio do encerramento da XVII Cimeira Ibero-Americana. Duas notas: a primeira para lamentar muito do que se tem dito e escrito por aí, sobretudo à esquerda, sobre o caso "Por qué no te callas?". Na grande maioria escrevem pessoas que viram a coisa por alto na televisão, foram aos blogues do costume e toma lá, desata a escrever disparates; a segunda, para reconhecer que há esquerdas e esquerdas, veja-se o caso da latino-americana (a que não é chavista, fidelista, moralista ou orteguista) e da espanhola vs a nossa. A nossa, de facto, e neste caso, revelou-se muito pobrezinha de argumentos.
"Convém a Espanha ter relações privilegiadas com países que encarnam a civilidade e a liberdade", diz Vargas Llosa no artigo de ontem no El País. Não posso estar mais de acordo, ao mesmo tempo que lamento que José Sócrates receba, assim sem mais nem menos, Hugo Chávez no auge desta crise. Eu sei que há os 600 mil portugueses oficialmente radicados na Venezuela (mais os luso-descendentes, a coisa deve ir para cima de um milhão e meio), eu sei que há interesses importantes naquele país, em termos de energias combustíveis (a Galp está lá com um pé, com a ajuda do dr. Soares), mas na política não vale tudo. Não pode valer.
Não se pode dizer, a um momento, que a nossa política externa e comercial deve ser "Espanha, Espanha e Espanha" e depois ter atitudes ou gestos destes. Nesta altura, o primeiro-ministro de Portugal devia estar do lado certo. E parece não querer estar. Ele é real politik de alto a baixo, ao ponto de minutos antes do episódio (e eu estava lá, em Santiago do Chile) ter dito que a diplomacia portuguesa não pode ser "infantil" (a expressão é de Sócrates) no que diz respeito à Venezuela. Se não podia ser "infantil" na altura, acho que depois disto tudo já podia ter, pelo menos, passado a puberdade...