domingo, novembro 18, 2007

Numa aldeia que resiste (ainda) ao invasor


Almoçámos um Cozido à Portuguesa excepcional no restaurante da Aldeia de José Franco, no Sobreiro. Eram tão saborosas as couves e as batatas que comprei umas e outras, idênticas, vendidas também numa banca do outro lado da estrada. Depois da refeição, falei com o próprio Mestre Oleiro que conta agora 87 anos. Pediu-me que arranjasse a antena da televisão (sem remédio), ligasse a aparelhagem que logo estoirou música de acordeão a mais de 20 decibéis e, enquanto moldava para nós uma peça e me oferecia uma ginjinha com elas, contou com os olhos inflamados e a pele das mãos avermelhadas pelo barro uma história triste sobre como o genro o enganara, o ameaçara e qualquer coisa sobre uma Fundação e outro museu que pretende abrir para as crianças. No final, pediu-me pela peça o que lhe quisesse dar. Eu dei, mas saí triste.
José Silos Franco, como escrevi linhas antes e pode comprovar-se através das peças e das obras que criou, é um Mestre artesão e homem de uma casta que se extingue. Ignoro que questões familiares existem e qual a história real por detrás do que me confessou. Mas depois de tudo o que criou entendo que merecia outro fim de vida em lugar de estar ali, olhos inflamados com as mãos trémulas em redor do torno, um prato com ossos de frango em cima da mesa e uma cantiga do bandido montada para os trocos dos visitantes.