terça-feira, outubro 02, 2007

Um ditador não é um "homem forte"


A situação na Birmânia, onde vigora uma das mais repugnantes ditaduras do planeta, não parece preocupar aquelas almas exaltadas sempre prontas a vir para a rua contra o "perigo sionista" e o "imperialismo norte-americano". Não admira: a China e a Rússia "musculada" de Putin são os dois grandes baluartes da tirania dos generais de Rangum, implantada em 1962 (só a cubana vigora há mais tempo). Para tais almas, não importa que centenas de milhares de birmaneses tenham procurado asilo em países vizinhos, por lhes faltar o arroz, alimento básico que a tropa não garante (comprar armas e munições é muito mais prioritário para este género de regimes). Não importa que apenas 27 por cento das crianças birmanesas concluam a escola primária (as restantes vão trabalhar para os campos de papoilas e para as fábricas pertencentes à casta militar, em regime de virtual escravatura). Não importa que a Liga Nacional Democrática - vencedora da eleição legislativa de 1990, com 85 por cento, num fugaz intermezzo democrático - tenha sido erradicada e a sua líder, a Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, permaneça detida. Não importa que os "delitos" de opinião sejam ali pagos com a morte. A boa consciência de uma certa esquerda ocidental permanece adormecida. E também um certo rigor jornalístico. Um ditador é sempre um ditador - nunca um "homem forte", como alguns jornalistas portugueses preferem chamar ao réptil fardado que não hesita em liquidar jovens manifestantes desarmados. E o país chama-se Birmânia - não "Myanmar", a designação que lhe deu um regime ilegítimo e imoral. Nestas coisas os nomes também contam.

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