quinta-feira, agosto 16, 2007

Um poema de Torga para a ministra ler


Depoimento

Deponho no processo do meu crime.
Sou testemunha
E réu
E vítima
E juiz.
Juro
Que havia um muro
E na face do muro uma palavra a giz.
MERDA! – lembro-me bem.
– Crianças... – disse alguém
que ia a passar.
Mas voltei novamente a soletrar
O vocábulo indecente,
E de repente
Como quem adivinha,
Numa tristeza já de penitente,
Vi que a letra era minha.

(Do livro Câmara Ardente, 1962)
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ADENDA: excelente, esta reflexão do Francisco José Viegas. Com um título que não podia ser mais apropriado: "A memória não se apaga, mas o esquecimento é indigno"