quarta-feira, outubro 11, 2006

Upstairs, downstairs

Depois de algum tempo a frequentar os mesmos sítios, não só acabamos por conhecer as pessoas, como as tratamos pelo nome e ganhamos alguma familiaridade. Falo de cafés, restaurante, pastelarias, onde costumamos ir todos os dias. Suponho que não seja só porque nos dê jeito, mas porque somos bem tratados. Como são as pessoas que lá trabalham fora daquele ambiente, pouco ou nada sabemos e certamente que não nasceram com a bata, o uniforme, o avental, a touca ou com o cabelo apanhado.
A que propósito é que esta missqualquercoisa está a escrever isto, poderão pensar (e bem) os leitores do Corta-Fitas, uma manienta, para o que lhes havia de dar a estes tipos, ainda se lixam. Eu explico. Acabo de me cruzar com a simpática Dona Clementina da pastelaria e se não fosse ela a cumprimentar-me, não a reconhecia. Pois em vez de uma Tina de touca e bata cor-de-rosa com folhos, eis que me cruzo com uma loiraça toda lançada, calções pelo joelho, bota alta, e top só com uma alça, acompanhada pelos filhos e marido. Lá balbuciei uma desculpa deslavada, mas o mal estava feito. Amanhã, a culpa vai toda para as lentes ou melhor, para a falta delas. Uma mentira piedosa.
Na vida para além dos uniformes, fico desconcertada a pensar se a atenciosa Conceição da padaria será uma ousada praticante de hip-hop, se o cicunspecto Sr. Tobias assim que sai do talho se transforma num cantor de fado vadio, ou se a Etelvina da lavandaria se converte numa atrevida domadora de leões e quem sabe se o minucioso Sr. Jorge da casa de ferragens se transfigura num feroz adepto do tuning.
Pensando bem, esta coisa das batas, uniformes, toucas e aventais, é todo um programa.
(Caros leitores, isto é só um post. Não é a vida de ninguém, muito menos a minha. É uma ficção fraquinha, mas não passa de mera ficção.)