Paideia, onde estás tu?
Antes que desabem os opiáceos posts de hoje sobre o jogo que se avizinha, gostava de falar sobre um tema que pessoalmente me toca e que o João Gonçalves abordou aqui da sua forma habitualmente provocatória. Escreveu ele:
«...as universidades, ou os lugares que passam por tal, "vomitam" todos os anos cá para fora milhares de analfabetos funcionais, gente que não sabe de onde vem nem para onde vai, desprovida de um pingo de sofisticação, de cultura e de "história"».
Ora eu tenho dois filhos, nenhum deles em idade universitária. E tive vários enteados, esses sim mais crescidinhos. Tenho sobrinhos e sobrinhas, em suma, gabo-me de entender esta geração e o que a faz mover.
Julgo, posso estar enganado, que ela é apesar de tudo melhor do que a nossa. É óbvio que também me preocupa muitas vezes a falta de domínio da linguagem, mas como ferramenta que é da expressão do pensamento, não pela «falta de sofisticação». Mas preocupa-me ainda mais a hipótese de estes jovens (pareço um cota a falar) terem a mesma encarquilhada moldura mental que nós, os cultos e sofisticados.
Os miúdos de hoje, digo eu, usam o coração. Procuram uma vida dentro do caos que lhes criámos. Buscam uma identidade que os proteja em tribos que os acolham, mensagens que façam sentido em códigos que consigam ler.
São mais abertos ao diálogo, desistem menos dos valores em que acreditam, criticam mais aquilo que herdaram, abdicam menos de melhorar o mundo que os cerca e as más práticas que o destroem quotidianamente.
Eu gosto desta geração e tenho esperança nela. Gostaria que ela tivesse feito o 25 de Abril. Imagino que teria sido uma revolução aberta à partilha e não à tomada do poder. Porque esta geração, ao contrário da anterior, não usa a língua e a cultura (a pouca que lhes dão) como instrumento de domínio, mas como instrumento do diálogo.