jornalismo (II)
Para sustentar a sua tese de que o jornalista deve ser intelectual, Tiago Barbosa Ribeiro dá o exemplo de um seu familiar, jornalista nos anos 50. A tese, no fundo, é confusa e choca com o dilema acção-mediação, pois o intelectual, por definição, é sempre actor, não pode ser mero mediador.
Claro que um jornalista deve ser intelectual. Deve ser uma pessoa que pensa o mundo, que reflecte sobre ele, que tem opinião sobre aquilo que vê. Deve ser culto e deve ser independente. Jornais sem pensamento não fazem sentido, pelo que a ideia é contraditória: Barbosa Ribeiro critica os jornais por serem actores e, depois, exige a quem escreve que seja intelectual.
A memória do bisavô Juliano Ribeiro é, certamente, preciosa para o autor. Mas o facto é que os jornais, nos anos 50, eram muito inferiores aos que se fazem hoje. Embora se encontrem por vezes excelentes textos, a qualidade média era baixa. Bastaria a censura. Os actuais têm outro tipo de defeitos: são rigorosos, mas pouco ideológicos; desapaixonados e distantes; por vezes chatos. Uma coisa é certa: nos jornais de referência, pode confiar-se no que está escrito.
Há uma conclusão estranha, no mesmo texto de kontratempos, contrária à existência de escolas de jornalismo. Mas se estas elevam o nível médio dos profissionais e não inviabilizam a tarimba, não se percebe qual seja o problema.
Embora discorde de todas as premissas do texto, concordo com a conclusão de Barbosa Ribeiro: aos jornais de hoje falta reflexão e pensamento independente. Enfim, faltam intelectuais. Penso que este é o problema essencial dos jornais portugueses, tal como o era nos anos 50. O bisavô do autor já tinha toda a razão quando dizia o que é citado no texto, ao reflectir sobre o que era necessário para a profissão de jornalista: “Cultura, muita cultura...”.