sábado, julho 08, 2006

Coreia do Norte (I)

A comunidade internacional acordou repentinamente para o problema da Coreia do Norte, após o regime de Kim Jong-Il ter lançado mísseis de grande alcance. Com esse desenvolvimento, surgiram comentários entre a perplexidade e a habitual insistência na necessidade de dialogar e de pôr a diplomacia a negociar um acordo. Ao contrário do Iraque de Saddam, que só podia fazer mal a si próprio, este é um problema novo e sério: a Coreia do Norte tem armas de destruição maciça e é capaz de as usar.
Em 1989 tive a rara sorte de poder entrar à socapa na Coreia do Norte (eles não sabiam que eu era jornalista). Escrevi a minha reportagem no falecido Tempo, já na altura um jornal em agonia, e ainda me lembro do protesto da embaixada, pois nesse tempo havia uma embaixada da Coreia do Norte em Lisboa, a qual ocupava um dos melhores palacetes da cidade.
O que vi? Nesse tempo, o “Grande Líder” era Kim Il-Sung, pai do actual ditador. A fotografia que tirei à sua famosa estátua diz tudo. Contavam-se as histórias mais mirabolantes sobre a sinistra personagem; lembro-me, por exemplo, de ouvir que o presidente tinha ordenado que construíssem um túnel desde a montanha onde combatera os japoneses até ao seu palácio pessoal e que esse túnel servia para fazer circular ar puro da montanha até ao quarto onde o ditador dormia o seu sono tranquilo.
A história não passará de lenda, mas o culto de personalidade e o total isolamento do regime eram bem reais. O colapso do bloco socialista ainda não ocorrera, mas eram já visíveis as fissuras, pelo que o regime coreano entrou pouco depois numa crise acelerada, que acentuou as tendências já visíveis: escassez de recursos, isolamento, loucura.

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