sexta-feira, julho 07, 2006

Agitação a leste (II)


Encontrar aqui padrões não parece fácil: li recentemente uma tentativa de explicação, num texto de José Medeiros Ferreira publicado aqui, segundo o qual as recentes mudanças na Europa de Leste se podiam compreender pela rejeição do neoliberalismo. O autor definia os partidos ex-comunistas como “social-democratas” e concluía que a “social-democracia agora só vence eleições no Leste europeu quando virada para a esquerda”. Dava exemplos da Eslováquia e da Hungria.
Acho um erro interpretar as divisões nestes países como conflito ideológico entre nacionalistas e social-democratas; ou entre direita-neoliberal “domesticada por Bruxelas” e “a esquerda clássica”. Pelo contrário. A direita nacionalista é sempre anti-europeia e odeia os ex-comunistas, que foram os autores das privatizações. Nestas, os membros do antigo regime (os que se converteram a tempo) encheram os bolsos. Para se entender o leste europeu é necessário fazer um pequeno exercício: imagine-se o fim do regime autoritário em Portugal; a União Nacional converteu-se num partido “social-democrata” e aderiu à Internacional Socialista, privatizou selvaticamente e os seus membros ficaram milionários; estes políticos, que se afirmam de esquerda, mas que são na realidade conservadores, defenderam a entrada veloz na União Europeia e na NATO; eles controlam os meios de comunicação e têm a única máquina partidária eficaz; alguns membros da PIDE são agora capitalistas bem sucedidos; e, cereja em cima do bolo, os antigos dissidentes (nacionalistas porque o país estava sob ocupação militar estrangeira) foram os primeiros a ficar desempregados, pois vinham geralmente dos meios intelectuais, os que mais sofreram com os cortes de orçamento. Os ex-membros do antigo regime andam de Mercedes e enriqueceram parvamente; os que lutaram pela liberdade continuam excluídos na nova ordem económica.

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