Algumas ideias sobre escrita II (crónica)
Por definição, é impossível saber o que é a literatura do futuro, pois ela não está escrita. Pode estar na cabeça do autor, podemos até identificar qual é a “História de Arte” que cada escritor faz para si, mas este continua a ler, pensa e está sempre em mudança.
E as regras? Bem, as regras identificáveis são da literatura que já foi escrita, servem para destruir, para romper; podemos recuperar as que foram esquecidas, podemos esquecer as que foram recuperadas.
Um romance pode não ter história, mas que mal lhe fará ter uma? E mil estruturas possíveis, personagens assim ou assado, ritmos e tempos. Tema social, ou antes pelo contrário. Há quem diga que não se pode escrever cronologicamente. E se ao autor apetece escrever cronologicamente?
Na minha opinião, em Portugal, a técnica do romance é demasiado valorizada, as ideias e a eficácia desse romance são consideradas pouco importantes.
Numa entrevista ao DN, há um ano, o escritor António Lobo Antunes (o mais imitado dos escritores portugueses contemporâneos) dizia qualquer coisa como (e cito de cor, mais uma vez) “o escritor deve escrever contra aquilo de que gosta”. Interpretei a frase como a indicação de que se algum artista descobriu uma linguagem, ou um estilo, não faz sentido voltar a descobrir o que já foi descoberto. Aquele é um ponto de partida, um momento na História de Arte, que o novato em busca de territórios desconhecidos deve apenas levar em consideração, sem nunca tentar imitar.
A imitação é um espartilho, a perda da liberdade. Ou seja, a morte do artista.