Para o esquema dar lucro
Na leitura diária de blogues, deparei com um post do obrigatório Blasfémias da autoria de João Miranda, sob título O Fabuloso Destino do Cidadão Estimulado. Não me pronuncio sobre as medidas governamentais em causa, pois não as conheço, mas parece que elas visam contribuir para o aumento da taxa de natalidade, que por ser demasiado baixa causará a prazo problemas económicos graves no País. Apesar do registo do autor me ter parecido sobretudo irónico, não deixa de assustar a frase em que João Miranda se interroga sobre o bom senso do Estado “estimular o nascimento de uma criança que constituirá um encargo para o Orçamento de Estado durante 20 anos”, ao mesmo tempo que estimula o “aparecimento de um credor [do Estado]”, quando o petiz começar a pagar contribuições, lá para 2026. E, logo a seguir, escreve-se a extraordinária ideia “para o esquema dar lucro...” e segue a argumentação. Ou seja, o Estado não deve tentar intervir num dos problemas mais sérios do País, na questão demográfica, porque para o “esquema dar lucro...” será preciso uma data de coisas complicadíssimas. Não estamos a falar da próxima geração de portugueses, de pessoas, estamos no mundo dos números. Não nascem criancinhas, mas contribuintes. Esta lógica, levada ao absurdo, acaba com escolas e hospitais públicos, com a ópera e, já agora, com toda a cultura, porque para “o esquema dar lucro...”.