Entretanto, no Darfour
Um conflito esquecido está a incendiar um território árido e pobre, sem qualquer relevância para os interesses dos países ricos. Chama-se Darfour e a comunidade internacional devia agir nestes casos.
A rebelião teve origens pouco claras (que eu entenda) e foi iniciada há três anos. Penso que os rebeldes estariam a contestar a divisão dos parcos recursos do Sudão; mas, como é normal em África, podia haver razões mais subtis, étnicas e tribais, ou interesses estreitos de líderes. O que se conhece melhor é que o Governo sudanês retaliou sobre a população do território com invulgar brutalidade, criando uma milícia, os Janjaweed, cujas acções já mataram pelo menos 200 mil pessoas, devastando aldeias e forçando à fuga muita gente desarmada. O conflito no Darfour já produziu uma grande colheita de desgraças e pelo menos 2 milhões de refugiados. A violência ameaça outros países pobres da região, como Chade ou República Centro Africana.
Neste momento, discute-se um plano de paz e há notícias de que os sudaneses aceitaram desarmar os Janjaweed. No entanto, não há garantias de que o problema seja resolvido. Nos Estados Unidos, decorrem pressões para que se mobilize uma intervenção externa, mas ninguém tem ilusões: americanos e europeus enviaram soldados para o Kosovo para evitar o que se apresentava como sendo um genocídio (que não era), mas nunca farão o mesmo no Sudão, onde decorre um genocídio a sério, mas onde nenhum dos seus interesses está posto em causa.
Uma vida no Darfour tem pouco valor. Mas o pior, o verdadeiramente trágico, é que o Darfour não tem relevância para os nossos interesses e o mundo rege-se por interesses, não por valores.