segunda-feira, janeiro 07, 2008

Pouco fumo, muito fogo


Qual petróleo a cem dólares? Qual morticínio no Quénia? Qual duche escocês da senhora Clinton no Iowa? Qual Lisboa-Dacar abortado antes da partida? Qual desemprego a subir em flecha no paradisíaco país de Sócrates? Lendo os colunistas vitalícios da Lusolândia, após uns dias de pousio, fica-se com a certeza de que só existe um problema em Portugal e no Mundo: a lei 37/07, que interdita o consumo de tabaco em alguns espaços públicos cá na terrinha, nomeadamente nos restaurantes que não tenham feito as necessárias obras para exaustão de fumos.
Miguel Sousa Tavares garante que este é "um país onde o terror passou a ser lei", assegura que o diploma foi feito "à medida de um país de polícias e de eunucos", compara Portugal ao Irão e à Arábia Saudita e conclui com a elegância que o caracteriza: "Qualquer dealer de drogas duras tem mais credibilidade moral do que o Estado português." Isto na mesma edição do Expresso que publica uma lista (muito provisória) de 37 restaurantes onde continuará a ser possível fumar.
Daniel Oliveira, na mesmíssima edição do Expresso, dispara bem ao seu jeito: "O mesmo Estado que fecha urgências quer convencer-nos a deixar de fumar." Não se detecta qualquer indício de demagogia num argumento com tanta solidez...
Vasco Pulido Valente, sempre original, atira-se no Público a Cavaco Silva: "Um Presidente da República para quem a liberdade contasse, não aceitava, calado e quieto, a proibição (na prática absoluta) de fumar em público. Porque ela própria limita o direito de propriedade e se intromete na vida privada de cada um." Inútil explicar-lhe que poderá continuar a fumar no seu bem-amado Gambrinus: nem assim a sua fúria contra a proibição "absoluta" de fumar abrandará.
António Barreto, igualmente no Público, não faz a coisa por menos: "O primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas."
Mesmo sem fumo, o fogo não vai faltando. Fogo verbal, pelo menos. Nisto continuamos a ser eternamente bons.

Etiquetas: