segunda-feira, dezembro 10, 2007

O homem perfeito


Imagine-se um entrevistado a dar-se ao luxo de escolher o fotógrafo que o retratará para uma entrevista. Estrela de Hollywood, barão da finança londrina? Não é preciso ir tão longe. Aconteceu por cá, com José Sócrates. O sempre tão reservado primeiro-ministro português, que raramente se deixa entrevistar ou fotografar na intimidade, quebrou a regra com o El País. O jornal espanhol foi no engodo: prescindiu de trazer a Lisboa um dos seus repórteres fotográficos, aceitando o amigo de Sócrates para fazer os "bonecos". E deu-lhe protagonismo com uma prosa encomiástica, que transborda veneração em cada parágrafo. Sócrates, garante o El País neste panegírico (recorro à tradução do Expresso, que transcreveu o trabalho), "nunca duvida, dir-se-ia que tem sempre razão". É "um actor consumado, um político profissional". Até "dá a impressão que governa um continente inteiro". Para aqui chegar, "teve de fazer uma longa corrida de fundo. Uma corrida suada, trabalhada e mastigada passo a passo, onde se adivinha vocação, dinamismo, habilidade para se mover nos bastidores e um prodigioso sentido negocial". António Ferro não diria menos no seu livro sobre Salazar...
Cansados de tanta graxa? Aguentem, pois há mais: "Imbuído da sua dupla missão (deixar a sua marca e reformar o País), Sócrates não desanima. Exerce o poder sem olhar pelo retrovisor, caminha em frente, despacha as críticas com desenvoltura e encontrou na Europa um cenário à medida da sua ambição". O El País, bem habituado a louvar o poder socialista, interroga-se: "O homem perfeito?" É escusado o ponto de interrogação: claro que ele é perfeito. Direi mesmo mais: é porreiro. Pá.

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