Show Sarko
Ontem tive a oportunidade de assistir à conferência de imprensa de Nicolas Sarkozy, na Cimeira UE-África, e só posso dizer-vos que o Presidente francês confirmou, ao vivo, grande parte das ideias que tinha sobre ele. É um político de excepção. Em primeiro lugar, o respeito pela imprensa internacional: não fugiu a uma única pergunta, não foi arrogante uma única vez e houve pelo menos dez "últimas questões" que lhe foram colocadas. Em vez de despachar aquilo em dez ou quinze minutos com frases vazias, Sarkozy esteve praticamente 40 minutos a falar com a comunicação social internacional. E não se ficou por matérias exclusivamente ligadas à cimeira em curso.
Explicou em pormenor os encontros bilaterais que teve, em especial com Zapatero (sobre o combate ao terrorismo). "Sarko" foi claríssimo: disse que os inimigos da democracia espanhola são os inimigos da França, numa alusão aos terroristas da ETA, a quem chamou de "assassinos". Sarkozy disse concordar com tudo o que Merkel tinha dito do Zimbabwe e de Mugabe, falou no Darfur e não se esqueceu do que se está a passar ali ao lado no Chade. Para o Presidente francês não faz sentido haver "forças híbridas" num lado e forças da UE noutro. Para ele, a UE tem que estar pronta para intervir em qualquer cenário.
Numa lição de diplomacia, alta diplomacia, Sarkozy explicou ainda por que razão fala com Khadafi (e vai recebê-lo em Paris) e com Chávez. Lembrou que, no primeiro caso, só foi à Líbia depois de serem libertadas as enfermeiras e de o ditador ter reconhecido a sua responsabilidade no atentado de Lockerbie, indemnizando a família das vítimas. Nessa altura, citou um por um os chefes de Estado que visitaram antes dele a Líbia (até o seu antecessor, Chirac). E disse isto: "A França tem os seus aliados, os seus amigos e os países com quem tem que falar". Estes últimos para resolver problemas importantes. Por isso fala com Chávez (e desenvolveu a loucura da escalada dos preços de petróleo) e com Uribe, empenhado que está na libertação pelas FARC de Ingrid Betancourt. "A França fala com todo o mundo", disse a certa altura.
Para verem o que é alta diplomacia, Sarkozy chegou ao ponto de dizer que "os mesmos que diziam que eu era (e sou) um amigo do Bush são os mesmos que dizem que sou amigo dos inimigos do Bush". Por estas e por outras razões é que Sarkozy foi verdadeiramente o único que ontem se sentiu à vontade para alinhar com as palavras de Merkel sobre a situação política no Zimbabwe. A França tem dimensão e tem um político com dimensão.