terça-feira, outubro 02, 2007

E agora um texto demasiado violento para o meu gosto, mas acordei mal disposto da sesta




Os americanos são bons, os europeus são maus. A direita é boa, a esquerda é má. Parece simplista, mas esta é a ideia que alguns autores têm do mundo. Li por acaso um excerto de um artigo de Rodrigo Adão da Fonseca, publicado na revista Atlântico e citado no Insurgente. Não me contenho. Reajo antes de ler todo o original, pelo que antecipadamente peço desculpa se cito erradamente.
Nesse artigo, que pode ser lido parcialmente no post "O Leviatã Vestido numa Bela Pele de Carneiro", aqui, as pessoas de esquerda são uma cambada de papa-açordas que não entendem o que é um neo-conservador. A profundidade de pensamento dos americanos não é compreensível para estes europeus que já esticaram o pernil e ainda não deram por nada.
A esquerda critica os camones porque o planeta está a aquecer (enfim, duvidosas teorias) e quando dizem que há pobres na América, os da esquerda insultam os verdadeiramente pobres por aí fora.
Portanto, conclusões do início do artigo: o neo-conservadorismo acertou em cheio, não há pobres na América e o aquecimento global é uma balela.
Os da esquerda são uns tontos, pois, e agora cito com maior precisão "caucionam todas as formas folclóricas de combate à fome em África" (não sei se isto inclui as da Igreja católica, mas julgo que não).
Conclusões da segunda parte: é disparate apoiar o trabalho de ONGs que dizem que tentam minorar os problemas da fome em África. O esforço não salva vidas, claro que não.
Agora, cito correctamente o artigo (sem caricatura): a esquerda recusa uma solução que de facto ia ajudar o continente negro "como a diminuição de barreiras alfandegárias e a implementação de regras mais justas de comércio". A razão para esta recusa é porque o dito comércio justo faria "perigar o Modelo Social Europeu". Nem sei por onde deva começar. Comércio justo? Barreiras alfandegárias? Modelo Social Europeu? O Rodrigo acredita mesmo no conceito de comércio justo e na bondade de tudo isso? E acha que o que descreve como modelo social europeu fica em perigo se comprarmos bife argentino?
Avancemos. Rodrigo Adão da Fonseca escreve que a esquerda "quer acabar com os ‘Muros da Vergonha’ em Ceuta e Melilla, mas perde fôlego quando se pede o fim dos grandes muros, entre outros, as barreiras alfandegárias e os subsídios à agricultura na União Europeia". A PAC tem mesmo as costas quentes. E os subsídios agrícolas nos Estados Unidos, que são da mesma ordem de grandeza, ficaram pelo caminho? São só os europeus que impedem um acordo na OMC? E os ‘muros da vergonha’ na fronteira com o México, não são importantes? Qual é a soberania de Ceuta e Melilla (não terá um governo à esquerda?).
É, de facto, um sarilho, quando começamos a simplificar.
Quem escreve esta crítica não é de esquerda nem de direita, antes pelo contrário, acho que isso já não existe, excepto como ritual. E, acima de tudo, são conceitos que dificultam a análise. Mas sou contra as OGMs que as multinacionais me querem impingir (prefiro não morrer envenenado); tiro o meu chapéu aos que vão para África ajudar gente que tem fome (dava para várias crónicas, Rodrigo, falar destas pessoas, os que têm fome e os que ajudam). Acho que não é preciso ser muito alfabetizado para perceber que os gases com efeito de estufa aumentam a temperatura média do planeta. O problema existe, Eppur se muove, como diria Galileo.
Os neo-conservadores aplicaram uma simples teoria política à realidade complexa, mas a realidade enganou-se. Eles não acertaram uma, por amor de Deus, a teoria está errada, esqueça essas fantasias.

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