Homenagem aos Corta Fiteiros
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Sempre que tinha vontade de chorar, António pegava nos velhos lápis de cera e numa folha branca, lisa. Dobrava os cantos, escrevia combinações de números em cada um deles, fazia uns cálculos mentais e riscava o centro, a toda a velocidade. Depois apagava. Depois escrevia e voltava a apagar. Só quando todos se iam deitar os seus olhos descansavam nas cores… e suavizava assim o pensamento. No dia seguinte, quando lhe perguntavam o que tinha estado a fazer, respondia:
- A contar os dias que faltam para voltar a nascer.
A reconciliação com a vida acontecia quando ia para o terraço do prédio cortar fitas.