As Emoções Básicas (crónicas) I
O Olimpo
José Pacheco Pereira, autor do blogue Abrupto, escreveu recentemente um post onde zurzia a blogosfera por, na sua óptica, reproduzir os erros da imprensa e se estar a transformar num conjunto de tribos onde se trocam favores. Embora seja um dos portugueses com mais acesso a órgãos de comunicação, JPP escreve frequentemente com desprezo sobre estes. O autor é mesmo um dos raros portugueses com acesso a todas as formas de comunicação, dos livros à TV, passando pela blogosfera e a imprensa. É mérito seu. Confesso-me leitor assíduo do Abrupto e da generalidade do que JPP escreve em jornais. Acho que o autor tem uma rara lucidez e uma cultura fora de série. Muitas vezes concordo com aquilo que escreve, mas neste caso, discordo. Atrevo-me até a lançar aqui uma crítica, apesar de JPP ainda não ter terminado a sua argumentação.
Há uma diferença entre blogues e jornais. As pessoas pagam para ler jornais e ninguém dá dinheiro por um que não seja credível. Daí que o amiguismo não seja desejável, pois mina a credibilidade. Por outro lado, a blogosfera é um meio gratuito, não remunerado. Logo, trata-se de uma comunidade, não de um produto. Nas comunidades trocam-se cortesias e insultos. Há casamentos e ódios. Para além disso, este universo em expansão tem tribos e clãs: há antigos e recentes; literatos e políticos; homens e mulheres; colectivos e solitários. Se as pessoas não gostam, mudam de clã, ainda antes de mudarem de tribo.
Claro que existe amiguismo na blogosfera. É da sua natureza. A começar pela escolha dos blogues linkados, pelo que se gosta de ler noutros locais, pelas pessoas com quem se escreve no mesmo sítio. Existe a excepção dos bloggers que não têm links ou que nunca citam os outros, mas se todos fizessem assim, a blogosfera não existia e não era uma comunidade. Era um conjunto de colunistas famosos a escreverem num espaço virtual.
O autor afirma que a blogosfera está a perder qualidades, mas este argumento é um pouco difícil de compreender. Trata-se de uma visão subjectiva, enquanto não for explicada. Admito que para muitos utilizadores a blogosfera esteja a perder qualidades, mas talvez a melhor maneira de descrever o fenómeno seja dizer que ela cresce, que entram mais pessoas que não conhecemos, que ela evolui sem que a possamos controlar. Mas isso pode ser uma coisa boa.
Deixem-me voltar atrás. Há uns dias, num post que me fez torcer o nariz, JPP defendeu a sua tese de que só leria literatura com pelo menos dez anos de publicação. É engraçado defender estas coisas, mas é melhor que não haja muitos leitores a imitar a ideia, pois em breve não haveria literatura, nem com dez anos nem com um. Se as pessoas só comprassem livros com dez anos, as editoras iam à falência e, portanto, não editavam.
No fundo, nesta polémica, acho que é giro ser da elite e habitar na estratosfera.
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