quinta-feira, junho 07, 2007

Meia hora

Fui ver a exposição Corpo Humano, a que mostra cadáveres verdadeiros. A primeira impressão, devo dizer, é dramática: de repente, numa sala, surge um corpo nu, a pele ressequida e mal preenchida, cortado ao meio num momento de corrida.
Tão forte como o primeiro impacto é a rapidez com que o cérebro se habitua a ver tão despojados aqueles que podem ser os nosso vizinhos, amigos, nós mesmos. À medida que passamos as salas, os corpos vão surgindo cada vez mais dissecados e menos impressionantes até à imagem final de um corpo em corte transversal tipo fiambre cortado fino, já absolutamente indiferente.
Da visita ficou-me como impressão mais forte uma frase escrita numa das paredes da exposição: "Todas as pessoas já foram uma célula única durante meia hora". Nunca me tinha ocorrido quanto tempo teria durado a nossa condição de célula única, sem possibilidade de comunicar com outra igual. A verdadeira solidão.
Durante aqueles 30 minutos tudo é possível. Divide-se? Não se divide? Quem decide? E por que raio dura meia hora? Que quer isto dizer?