Postal (atrasado) de Cabo Verde
O jipe de marca japonesa percorre rápido a estrada antiga de calçada que serpenteia pelo interior de Santiago, a maior e mais populosa ilha de Cabo Verde. A paisagem revela-nos o mar, por entre as montanhas de assertivas e bizarras formas, sempre cinzentas cor de Jorra, a omnipresente rocha vulcânica aproveitada também na construção de casas e casebres por toda a Ilha. Nas bermas, assinaladas por pedregulhos pintados de branco, entre curva e contracurva, encontramos constantemente magotes de alegres crianças, fardadas com a cor da sua escola e que galgam quilómetros em constante brincadeira. Alegres, acenam-nos à nossa passagem, com simpatia. Isto é Cabo Verde, é Africa não há dúvida. Mais longe, nas ressequidas acácias, inclinadas e batidas pelo vento, resiste pouca folhagem. Pelas rochas, pedras e caminhos, passeiam-se indiferentes as cabras. Como as vacas e as galinhas que constantemente se nos atravessam indiferentes na estrada. Explicam-nos que sabem onde moram, conhecem os donos... Chegados ao Tarrafal depois de uma rápida visita à prisão, uma inevitável viagem aos infernos da história, às misérias da humanidade, desço à praia e dou um higiénico mergulho nas cristalinas águas tropicais.
De volta “a casa”, fazemos paragem numa estranha e pequena aldeia de frágeis cabanas, dos "Rabelados", um autêntico gueto de um povo que teimosamente nunca cedeu à miscigenação cultural. Resistem estoicamente à margem da sociedade, sem falar crioulo, pintando a óleo umas estranhas e esguias figuras, em telas ou tábuas, que vendem aos forasteiros.
Ainda parámos na Cidade Velha, o primeiro “porto de abrigo” dos portugueses e as suas ruelas e muralhas quase medievais. Pelo caminho, grupos de mulheres gingam as ancas sob os pesados recipientes de água. Ao jantar, enquanto degustávamos uma bela malga de sopa Rolon (sopa de peixe e milho), fui surpreendido e encantado por um nativo que cantava um Funaná di Gaita, uns estranhos e ritmados lamentos acompanhados por percussão e concertina, como um exótico género de blues. Sons de um povo de música, a tocar nas telefonias todo o dia, que é o que se gosta e gasta nesta terra: Morna, Funaná, Coladera.
A Praia, capital de Cabo Verde, é povoada por gente boa, de comércio e serviços, que vive hoje a expectativa de grandes investimentos e dinheiro novo. Possui um novíssimo aeroporto e projectam-se grandes investimentos em infra-estruturas. Que se espera traga mais bem-estar e perspectivas de futuro a este povo sem ressentimentos. Que o rápido progresso e a invasão dos euros não corrompam este seu espírito genuíno e hospitaleiro.
A cinco quilómetros da cidade da Praia, paramos o jipe no extremo da península de Ponta Bicuda, onde o mar e os céus infinitos nos cercam sobre uma agradável brisa. É para lá do horizonte que está todo o mundo, o stress e a agitação. E muita saudade, bem portuguesa.
De volta “a casa”, fazemos paragem numa estranha e pequena aldeia de frágeis cabanas, dos "Rabelados", um autêntico gueto de um povo que teimosamente nunca cedeu à miscigenação cultural. Resistem estoicamente à margem da sociedade, sem falar crioulo, pintando a óleo umas estranhas e esguias figuras, em telas ou tábuas, que vendem aos forasteiros.
Ainda parámos na Cidade Velha, o primeiro “porto de abrigo” dos portugueses e as suas ruelas e muralhas quase medievais. Pelo caminho, grupos de mulheres gingam as ancas sob os pesados recipientes de água. Ao jantar, enquanto degustávamos uma bela malga de sopa Rolon (sopa de peixe e milho), fui surpreendido e encantado por um nativo que cantava um Funaná di Gaita, uns estranhos e ritmados lamentos acompanhados por percussão e concertina, como um exótico género de blues. Sons de um povo de música, a tocar nas telefonias todo o dia, que é o que se gosta e gasta nesta terra: Morna, Funaná, Coladera.
A Praia, capital de Cabo Verde, é povoada por gente boa, de comércio e serviços, que vive hoje a expectativa de grandes investimentos e dinheiro novo. Possui um novíssimo aeroporto e projectam-se grandes investimentos em infra-estruturas. Que se espera traga mais bem-estar e perspectivas de futuro a este povo sem ressentimentos. Que o rápido progresso e a invasão dos euros não corrompam este seu espírito genuíno e hospitaleiro.
A cinco quilómetros da cidade da Praia, paramos o jipe no extremo da península de Ponta Bicuda, onde o mar e os céus infinitos nos cercam sobre uma agradável brisa. É para lá do horizonte que está todo o mundo, o stress e a agitação. E muita saudade, bem portuguesa.