segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Se me é permitido discordar de Paulo Gorjão (I)




Num post do seu Bloguítica, Paulo Gorjão faz considerações com as quais não concordo. Costumo lê-lo, quando escreve sobre jornalismo; e, ao contrário do que ele pensa, o autor comete o erro que costuma criticar em outros: não domina o assunto. (Embora isso não lhe retire o direito de opinar).
Neste caso, Gorjão tem o desconto de escrever na qualidade de leitor, mas esta passagem resume o seu pensamento: "Aquilo que me leva a estar disposto a pagar jornais é muito simples: informação de qualidade, análise de qualidade, opinião de qualidade. Uma trilogia de 3Q. Sem ser exaustivo, para eu sentir que há valor acrescentado que me leve a pagar, devo encontrar nos jornais: informação segura e devidamente confirmada; análise imparcial e por quem conhece de facto os assuntos; e opinião credível, plural e independente".
Aparentemente, isto é bom senso à solta, mas na realidade este excerto não passa de um conjunto de generalidades sem substância. Passo a explicar.
O dono de jornais que souber o que é a "qualidade" fará uma pipa de massa. Infelizmente, ninguém parece ter uma fórmula mágica para se chegar a esse objectivo utópico. Estamos num período de extinções em massa (como os dinossauros), mas ninguém sabe ao certo se tem as capacidades para sobreviver.
Paulo Gorjão afirma saber o que é a qualidade. No primeiro ponto, refere "informação segura e devidamente confirmada". Ora, só um louco ou alguém desonesto publica uma informação que sabe ser insegura e não confirmada. Ou seja, a regra é publicar apenas aquilo que está seguro e confirmado. Não me parece que o jornalismo português seja muito diferente dos outros nesta matéria. Na profissão de jornalista é fácil errar, porque ninguém está livre de ser manipulado ou, em muitos casos, não há tempo para o máximo rigor.
Costumo dizer que o jornalista é o tipo mais ignorante no local do atropelamento: o polícia tem informação, o bombeiro chegou logo a seguir, a testemunha ouviu a travagem, a vítima diz que estava na passadeira. Pode até haver uma teoria sociológica sobre atropelamentos. Uma coisa parece garantida: a notícia não coincidirá com nenhum dos testemunhos recolhidos, antes será uma amálgama de todos eles. Querem outro exemplo? Num Benfica-Sporting, o estádio estará dividido em dois, na análise de determinado lance. Foi pantufada, simulação ou penalti? Cada jornal desportivo terá uma versão ligeiramente diferente. Estamos perante um terrível exemplo de desonestidade? Não, apenas perante o facto de que a objectividade é sempre um ponto de vista.

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