Se me é permitido discordar de Paulo Gorjão (II)
Paulo Gorjão fala ainda de "análise imparcial e por quem conhece de facto os assuntos". Ora, existe aqui uma confusão: o jornalista não é um académico (e é por isso que alguns dos melhores não têm licenciatura). A análise dos factos deve ser feita com honestidade intelectual, não com imparcialidade. Os cemitérios estão cheios de pessoas imparciais. Por outro lado, "quem conhece de facto os assuntos" são as pessoas com quem falamos e que nos explicam os factos; só então os jornalistas podem explicar aos leitores, de uma forma que os leitores que não sabem do assunto entendam.
O terceiro equívoco é sobre a "opinião credível, plural e independente". Acho (visão pessoal com a qual muitos jornalistas não concordam) que a opinião não deve ser um tempo de antena. Acredito na opinião sincera e empenhada, acredito na opinião livre, mas penso que a independência é algo que não existe. Defendo a opção anglo-saxónica dos jornais que escolhem causas e apoiam candidaturas.
Uma última observação: Paulo Gorjão é, sem dúvida, o tipo de leitor inteligente e informado que qualquer jornal gostaria de manter. Infelizmente, é também raro. Não preciso de informar o banqueiro sobre a OPA nem o padre sobre a missa. Agora, que o banqueiro se interesse pela história sobre pequeno comércio e o meu barbeiro sobre a OPA, isso talvez seja "qualidade".
É tema para outros debates, mas a Imprensa portuguesa está entre as melhores da Europa, e posso provar esta afirmação.
Etiquetas: Imprensa, Jornalismo