domingo, fevereiro 18, 2007

Valerian, o agente espacio-temporal



Um dos meus favoritos da juventude foi um herói de banda desenhada, Valerian, de Pierre Christin e Jean-Claude Méziéres. Acompanhado pela sua sensual companheira, Laureline, o "agente espacio-temporal" viajava através da galáxia mas também através do tempo, num paradoxal conjunto de aventuras. Cheias de fantasia e com belíssimos desenhos, estas histórias sempre me encantaram, sobretudo as iniciais da série, aquela em que os dois heróis atravessavam uma Nova Iorque parcialmente inundada (numa antecipação inquietante) ou em outra, intitulada O Império dos Mil Planetas, em que os dois viajavam através de um império estelar em decadência dominado politicamente por um misterioso grupo de sacerdotes.
Fui consumidor ávido dos coleccionáveis de Tintim, revista que nos ofereceu incontáveis maravilhas da banda desenhada franco-belga. Antes, lera o Cavaleiro Andante. Esta cultura é ainda hoje muito evidente na Bélgica, onde existe vasto mercado para álbuns de heróis entretanto criados e que, em muitos casos, substituíram os meus.
Em Portugal, parece-me, toda esta riqueza da minha juventude está a perder-se lentamente. A secção de banda desenhada das maiores lojas de consumo cultural fornece as novidades, há mangas japonesas e comics americanos, mas poucos dos heróis antigos continuam a ser traduzidos. Encontram-se em francês, naturalmente, mas perdemos algo de inestimável, que nos acompanhara fielmente durante muitos anos.
Para novas gerações, há novos heróis. Valerian foi um dos que se perderam, nesse imenso espaço-tempo que lança camadas de história sobre a história que se esquece. Restam alguns clássicos, naturalmente (Blake e Mortimer, por exemplo, uma das mais geniais criações da banda desenhada, sempre reeditado), mas sinto cada vez menor ligação a estas zonas das lojas onde estão alguns dos meus heróis da juventude, precocemente envelhecidos e quase incógnitos, escondidos entre álbuns de novas personagens com desenhos de encher o olho, mas feitas de argumentos frágeis, de histórias bastante mais superficiais do que as antigas. Sinal dos tempos a que Valerian conseguiu furtar-se, desafiando as leis da física: tutto declina, como se diz na ópera...