Outros Carnavais

As minhas mais remotas recordações do Carnaval referem-se à casa da Avenida, onde a minha bisavó Valentina imprimia ao evento uma marca particular, fruto da sua passagem pelo Brasil. Por exemplo, lembro-me de um grande boneco que nos aguardava,

O que me desagradava profundamente era que me mascarassem. Mesmo de Cowboy, figura heróica de todo o ano. Detestava que me pintassem com bigodes e patilhas de cortiça chamuscada, ou me espetassem com um chapéu de plástico que me caía continuamente da cabeça a baixo. Além disso ficava com uma intimidante “noção de mim”, era o fim da espontaneidade. O que eu gostava mesmo era dos lustrosos revólveres prateados e umas cargas de fulminantes para correr aos tiros atrás dos meus primos. No recreio da escola, a figura de Cowboy ainda valia o esforço de pôr a bata xadrez entalada para dentro das calças de ganga. Era o que bastava para me sentir um autêntico Cartwright. Mas isto nada tem que ver com o tema desta crónica. Carnaval para mim eram as semanas precedentes ao feriado, em

No Carnaval era a festa de anos do meu primo Manuel. Festas inesquecíveis, com muita criançada, em que acabávamos a tarde exaustos, enrolados em quilómetros de serpentinas, às escuras, a ver projectados desenhos animados Silly Symphonies de Walt Disney ou umas curtas-
metragens do Charlot em Super 8.
Na entrada da adolescência, no Liceu Pedro Nunes, por altura do PREC, quando qualquer divergência se resolvia democraticamente à pedrada, as partidas carnavalescas atingiam requintes de malvadez. Por pudor escuso-me a relatar algumas arbitrariedades por mim testemunhadas. Mas era comum detonar uma dessas poderosas bombas no “Metromijas”, o WC dos rapazes, umas instalações subterrâneas situadas no meio do pátio. Depois era esperar, após a estrondosa explosão, que as vítimas assomassem ao cimo das escadas, esquálidas e despenteadas…
Chegados ao Entrudo, os excessos e a brincadeira estavam feitos e gastos. Então, sempre me pareceram patéticas as figuras daqueles miúdos mascarados em passeio com os seus babosos
pais, com quem me cruzava a andar de bicicleta no Jardim da Estrela. Que tristonhas “espanholas” e “noivas do Minho”, que infelizes aqueles repetidos “Zorros” e “campinos”, de bochechas pintadas e olhos tristes. Com uma matinée no cinema Europa, umas voltas de bicicleta e muita televisão passava-se o meu Carnaval. Mas afinal que bom que eram para mim aqueles cinco dias sem ir à escola!

Na entrada da adolescência, no Liceu Pedro Nunes, por altura do PREC, quando qualquer divergência se resolvia democraticamente à pedrada, as partidas carnavalescas atingiam requintes de malvadez. Por pudor escuso-me a relatar algumas arbitrariedades por mim testemunhadas. Mas era comum detonar uma dessas poderosas bombas no “Metromijas”, o WC dos rapazes, umas instalações subterrâneas situadas no meio do pátio. Depois era esperar, após a estrondosa explosão, que as vítimas assomassem ao cimo das escadas, esquálidas e despenteadas…
Chegados ao Entrudo, os excessos e a brincadeira estavam feitos e gastos. Então, sempre me pareceram patéticas as figuras daqueles miúdos mascarados em passeio com os seus babosos

Fotos: Daqui