Câmara de Lisboa: de mal a pior
1. Até um cego consegue ver que a situação na Câmara Municipal de Lisboa se tornou insustentável. Carmona Rodrigues, como náufrago agarrado à bóia, persiste em manter-se no cargo. Faz mal. À cidade, aos munícipes, ao partido que o candidatou e a ele próprio. O que era um caso de polícia transformou-se num caso grave de política: Lisboa não merece uma câmara paralisada, endividada, desprestigiada e com o prestígio reduzido a zero.
2. Gabriela Seara e Fontão de Carvalho, os dois pilares da vereação de Carmona, foram constituídos arguidos por suspeitas de peculato. Gozam naturalmente da presunção de inocência, mas o processo que enfrentam fere de morte o executivo municipal. Ela teve a dignidade de se demitir, ele teve a falta de dignidade de se manter colado como lapa à vice-presidência social-democrata (depois de ter sido vereador das finanças na câmara socialista). Atitudes como a de Fontão, compreensivelmente, afastam ainda mais os portugueses da política. Desta política, pelo menos. E ainda bem.
3. O silêncio de Marques Mendes começa a ser ensurdecedor. Os salutares princípios enunciados pelo líder social-democrata para Oeiras e Gondomar não prevalecem na maior autarquia do País? Em cada dia que passa, acentua-se o fosso entre o PSD e Lisboa. Parafraseando Maria José Nogueira Pinto noutro contexto, até o Rato Mickey ganhará ao candidato social-democrata no próximo escrutínio.
4. Chegados a este ponto, torna-se incompreensível que a oposição não exija imediatamente eleições antecipadas. Os interesses de Lisboa não se compadecem com o cálculo político mesquinho e medíocre, tão característico dos socialistas na capital. O PS tem que abandonar a visão paroquial de Lisboa, onde os mesmos dirigentes partidários se eternizam há demasiado tempo, e avançar com uma figura com prestígio nacional que protagonize aqui um cenário de mudança. Sem alianças espúrias à esquerda, por mais que o PCP mendigue o tradicional prato de lentilhas: o pluralismo partidário é essencial na primeira câmara do País. Depois do interlúdio do aborto, é bom que José Sócrates volte a ocupar-se de política. A sério.