quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Conversa de táxi


- O senhor desculpe se estou a incomodá-lo. Mas tem algum taxista na sua família?
- Não. Que eu saiba, não.
- Nem imagina a sorte que tem. É que não há ninguém tão desgraçado como um chofer de táxi.
- Como assim?
- Olhe, andamos doze horas por dia agarrados aqui ao volante. Quando largamos, temos as costas feitas num oito. Mal sentimos o corpo. Só nos apetece dormir e nada mais.
- E não descansam um pouco nessas 12 horas?
- Nada. Mal temos tempo para engolir uma bucha. Às vezes nem tempo temos para urinar. Os filhos crescem e nem damos por isso. A mulher desinteressa-se de nós e não reparamos. Muitos nem voltamos às nossas terras para matar saudades. E quando um dia voltamos já não conhecemos ninguém. Somos uns estranhos para o mundo, que não quer saber de nós.
- É chato...
- Chato mesmo. Olhe o que aconteceu com um colega meu: a mulher andava a pôr-lhe os palitos há uns anos e ele nem imaginava. Mal se viam um ao outro: era só andar na praça, andar na praça... Coitado: acabou por matá-la e matou-se ele também.
- Tem razão: é chato.
- Andamos todos podres, pode crer. Por dentro e por fora. O senhor nem imagina a sua sorte por não ter nenhum taxista na família. E desculpe lá se estou a incomodá-lo.

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