quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Modernices

Recomendadíssimo e devidamente industriado, na posse dos documentos necessários, lá saí pela fresca sozinho com o Zé Maria rumo ao Centro de Saúde do Estoril para o tradicional “Teste do Pezinho”. Chamam-lhe “teste”, mas para mim trata-se de uma espécie de bruxaria que fazem aos bebés indefesos entre os três e os seis dias e que invariavelmente os põe a berrar quais bezerros sacrificados. Com o rapaz encaixado na cadeirinha que mais parecia uma trouxa de roupa com um gorro espetado, lá o atei ao banco de carro com alguma dificuldade pois já não tenho 18 anos.
Chegados ao nosso destino no meio de uma chuvada, esperámos por uma aberta para entrarmos no Centro de Saúde, onde num ambiente deprimente umas dezenas de empenhados velhinhos e alguns sem abrigo esperavam a sua consulta regular. O Zé Maria e eu dirigimo-nos convictos à secção de pediatria, onde como primeiros fregueses do dia fomos recebidos em festa por três ansiosas enfermeiras que após um impiedoso interrogatório ao pai incauto, iniciaram os seus obscuros rituais, com uma impressionante habilidade. Criança pelo ar, puxa perna, estica cabeça, corta o pé… Aquelas mulheres lá conhecerão o seu oficio, pensei eu retirando-me cobardemente daquele antro de tortura. Foi tudo rápido, por fim.
Logo à tarde, vou registar o miúdo. Imagino que para além dalgum progenitor negro ou brasileiro, terei o cartório por minha conta, que isto de registar crianças também será ofício em vias de extinção!

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