Uma noite feliz
Lamentavelmente, não pude comparecer ao jantar de ontem, que assinalou o primeiro aniversário deste blog. Os meus amigos e seguidores Duarte Calvão e Luís Naves tinham-me dito para estar às 21 h em ponto no restaurante Papagaio da Serafina, em Monsanto, onde, segundo me garantiram, decorreria a comemoração. Porém, ao chegar lá, ainda ninguém tinha chegado e, após ter esperado 45 minutos à chuva (a falta de pontualidade dos portugueses é um dos nossos maiores factores de atraso), recebi uma chamada de um governante a requerer a minha presença urgente e conselho. Assim perdi horas de afável convívio com aquela saudável e talentosa paleta de rapazes e raparigas.
Depois de ter estado três horas num think-tank sobre a aplicação do Simplex à recolha de lixos urbanos, fui espairecer para o Bairro Alto onde, numa viela esconsa, encontrei o jornalista do DN e pensador Fernando Madaíl, que se cruzara com alguns Corta-fiteiros deambulantes e me confidenciou ter sabido de pormenores sobre o lauto repasto. Ele parecia algo confuso, pois afirmou que o convívio decorrera no Tivoli, em vez do Papagaio da Serafina.
Durante horas, o bom do Fernando teorizou sobre o destino, mas lá me informou que a minha ausência do jantar fora comentada e que até havia um menu assinado por todos e dedicado a mim. Escrevera o Francisco Almeida Leite: “Obrigado pela tua bravura, José Nero Fontão”; alguém elogiava, talvez o João Távora, as minhas reportagens na China; e a Isabel, miss Pearls, deixara uma singela mensagem sobre a grande marcha, que me comoveu.
Decidi ir à procura destes meus amigos pelos estabelecimentos do Bairro Alto onde pairam os intelectuais noctívagos. Não encontrei ninguém e, apertado pela fome, tive que recorrer a uma roulotte onde serviam suculentos cachorros quentes. Partilhei a minha solidão com um sábio homem do povo, que me disse ser taxista, e juntos reflectimos sobre o estado do País. Ele confidenciou-me que tinha votado em A. Salazar no concurso dos Grandes Portugueses. Fiquei admirado com a sua cultura e o bom senso das suas palavras (“isto precisa é de Ordem, esta merda está toda corrompida”), já que o cientista e antifascista professor Abel Salazar não é geralmente referenciado entre pessoas menos eruditas. Consolado por verificar que ainda é no nosso povo simples que vamos buscar os melhores exemplos, voltei para o conforto do meu T12 em Miraflores. Chovia mansamente e o mundo estava sereno.
*José Nero Fontão votou em Maria Elisa no concurso dos Grandes Portugueses, mas não foi convidado para participar no painel de comentadores
Decidi ir à procura destes meus amigos pelos estabelecimentos do Bairro Alto onde pairam os intelectuais noctívagos. Não encontrei ninguém e, apertado pela fome, tive que recorrer a uma roulotte onde serviam suculentos cachorros quentes. Partilhei a minha solidão com um sábio homem do povo, que me disse ser taxista, e juntos reflectimos sobre o estado do País. Ele confidenciou-me que tinha votado em A. Salazar no concurso dos Grandes Portugueses. Fiquei admirado com a sua cultura e o bom senso das suas palavras (“isto precisa é de Ordem, esta merda está toda corrompida”), já que o cientista e antifascista professor Abel Salazar não é geralmente referenciado entre pessoas menos eruditas. Consolado por verificar que ainda é no nosso povo simples que vamos buscar os melhores exemplos, voltei para o conforto do meu T12 em Miraflores. Chovia mansamente e o mundo estava sereno.
*José Nero Fontão votou em Maria Elisa no concurso dos Grandes Portugueses, mas não foi convidado para participar no painel de comentadores
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