domingo, janeiro 14, 2007

Zapatero brinca com o fogo

José Luis Rodríguez Zapatero brincou com o fogo – e queimou-se. Rompendo a tradicional intransigência do Estado espanhol perante o terrorismo basco (estratégia que o socialista Felipe González sempre defendeu com tenacidade enquanto chefiou o Executivo), o actual inquilino do Palácio da Moncloa, em mais uma das lamentáveis cedências aos impulsos demagógicos que têm caracterizado grande parte do seu mandato, fez vacilar um dos alicerces nacionais da política madrilena, dando fôlego a novas investidas assassinas da ETA. Esta irresponsabilidade, que contou com a bênção de uma certa imprensa espanhola muito próxima do PSOE, ignorando os avisos de prestigiados intelectuais de esquerda, como Fernando Savater, legitimou quem jamais devia ter sido legitimado, por ter as mãos sujas de sangue, saldando-se afinal num imenso fracasso, até no plano mediático: a própria opinião pública anteriormente favorável a Zapatero insurge-se agora contra o presidente do Governo espanhol. Entretanto forçado a recuar em toda a linha, o sucessor de Aznar acaba de anunciar o fim do diálogo com os terroristas. Mas o mal está feito: um poder político fraco é semente para a progressão do crime organizado que utiliza as reivindicações autonómicas como mero pretexto para matar.
Também na questão das nacionalidades a demagogia de Zapatero ameaça causar danos irreversíveis ao Estado espanhol, como diariamente se verifica na Catalunha, com absurdas discriminações aos cidadãos que insistem em expressar-se em castelhano, o que constitui um inadmissível sintoma de nacionalismo atávico no coração da moderna e cosmopolita Europa. Em Barcelona, até o novo chefe do Executivo, o socialista José Montilla, começa já a ser criticado por ser natural da Andaluzia e só aos 16 anos ter rumado à Catalunha! É o que dá quando se brinca com o fogo, passatempo sempre arriscado num país que pode ser a oitava potência industrial do globo mas é estruturalmente muito mais frágil do que parece.