Portugal ao espelho
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Exagero? Talvez não. Este “top cem” inclui António Variações, Catarina Eufémia, Cristiano Ronaldo, a fadista Mariza, Ricardo Araújo Pereira e o general Vasco Gonçalves, além da obscura Maria do Carmo Seabra, que foi ministra da Educação no efémero Executivo de Santana Lopes – escolha que pede meças a qualquer sketch dos Gatos Fedorentos.
Devemos, no entanto, estar gratos a esta iniciativa da RTP. Por nos mostrar que Portugal os portugueses gostam de ver quando se olham ao espelho. O Portugal autoritário de Salazar e de Cunhal – ao que consta, as duas figuras mais votadas. O Portugal mítico da Padeira de Aljubarrota, o Portugal beato da Irmã Lúcia, o Portugal temente do médico Sousa Martins, o Portugal pícaro de Bocage, o Portugal vermelho de Otelo, o Portugal suicida de Florbela Espanca, o Portugal boçalóide de Alberto João Jardim, o Portugal da bola-à-flor-da-relva de Vítor Baía, o Portugal sem passado de José Sócrates (todos também votados). Um Portugal sem o Infante D. Pedro, sem Verney, sem Herculano, sem Camilo, sem Antero, sem Columbano, sem Serpa Pinto, sem Mouzinho, sem Sidónio, sem Amadeo, sem Aquilino, sem Duarte Pacheco, sem Lopes-Graça, sem Manoel de Oliveira, sem Eanes, sem Agustina (todos omitidos).
Há 20 anos, esta lista incluiria Linda de Suza. Hoje inclui o Hélio. Está certo: graças aos “fundos estruturais”, a “mala de cartão” deu lugar aos “morangos com açúcar”. Mudámos nisto. No resto, continuamos como dantes, como sempre.
Irreformáveis.