Post epifânico

A citação na Dia D de uma frase proferida no Expresso por Epifânio da Franca, CEO da ChipIdea, despertou-me suficiente curiosidade para visitar esta página da empresa. Apesar de formada por 3 engenheiros que imagino antes ligados ao INESC, o site da ChipIdea não tem uma palavra em português. O que também não merece críticas, uma vez que ninguém em Portugal compra chips - ou lá o que é que eles vendem - sem falar inglês como se tivesse nascido em Silicon Valley.

A frase, dita por Epifânio, foi esta: «Portugal deveria ter a ambição de se tornar um centro de excelência, atraindo talento de todo o mundo».

Assim dita, parece um desiderato simpático. Apetece questionar: «Por que não?». E depois encolher os ombros e voltar à leitura da crónica de Inês Pedrosa para uma sesta retemperadora. Mas, depois de relida, percebemos como na realidade é perigosa. Ela sumariza tudo o que não devemos fazer e que é, em especial, «ambicionar». Meus amigos e amigas (estas em menor número): O tempo de ambicionar já passou e a cena do 5º Império foi chão que deu uvas, o que já não foi mau de todo.

Já não é tempo de ambicionar. É o mesmo que decidir, numa empresa, que precisamos de ter uma «missão» e depois marcar reuniões à Dilbert para discutir como se chega lá. A verdade é esta: Não chegamos. Somos portugueses. O que nos resta é aproveitar bem a Europa, tornar os nossos filhos ambiciosos e ajudá-los a dar o salto para um sítio decente onde já tenham ambicionado há uns séculos e agora façam realmente pela «excelência» ou outra coisa qualquer, desde que gere riqueza e qualidade de vida.

A ambição de Portugal, meus estarrecidos leitores com esta aleivosia, é um sistema de vida artificial ao qual qualquer médico defensor da eutanásia já teria há muito posto fim.

Parafraseando Epifânio, eu diria: «Portugal deveria acabar com os delírios e tornar-se uma periferia para férias porreiras, enviando os seus talentos para centros de excelência em todo o mundo». Chamem a isto o que quiserem. Eu chamo-lhe uma epifania.