O correio do czar
A emissão era a preto e branco e, na família, só a minha tia Alice tinha a fabulosa caixa. 61 polegadas, forrada a madeira, encostada a um canto da sala. Um prodígio comprado pelo meu tio Humberto, fervoroso apreciador da inovação. Foi o primeiro a ter carro, o primeiro a trazer para casa uma televisão. A ligar os fios, a rodar o botão para ver noticiários, concertos e séries. Futebol e os Jogos Olímpicos de Montreal em indeferido, com o Carlos Lopes e a Nadia Comaneci.
Mas desses tenho uma vaga memória. O que lembro, com nitidez, é do meu primeiro amor. Começou secreto nas tardes de sábado e domingo, ainda as minhas pernas não chegavam ao chão. E logo no primeiro episódio, quando por necessidade de Estado Miguel Strogoff foi escolhido para levar uma mensagem ao irmão do czar da Rússia, governador da longínqua cidade siberiana de Irkustsk.
Os nomes, as razões e as causas da fantástica viagem do correio do czar pelas estepes da Rússia descobri mais tarde, quando li, de um fôlego, os dois volumes do romance do Júlio Verne. A cigana Sangarra, o vilão Ivan Ogareff, a revolta dos tártaros, o médico dissidente e os dois jornalistas - o inglês Harry Blount e o francês Alcide Jolivet - que seguiam a guerra de carroça.
Na lembrança, da série e dos meus cinco anos, ficou só o herói. O corajoso e leal Miguel Strogoff a quem, em silêncio, dediquei os meus melhores sentimentos. Sofri, amei, desejei o melhor e o pior. Por esse homem de ficção, encontrei coragem para assistir à tortura dos tártaros que, implacáveis, o cegaram com um ferro em brasa. Por ele, chorei lágrimas de tristeza e alegria, mas só descansei no último episódio, quando tive a garantia que casava com Nadia, fiel companheira de viagem.
A série acabou, com feliz final. Miguel Strogoff deu lugar a outras histórias, a outros personagens. Vieram os filmes de piratas e o Errol Flynn, de collants e chapéu de Robin de Bosques. As emissões coloriram-se, a tecnologia mudou e eu cresci. O que não mudou foi a memória desse herói. O valente militar da Rússia Imperial, cruzando povos e paisagens, resistindo a golpes e traições. Miguel Strogoff, correio do czar e meu primeiro amor. De ficção porque nos afectos vale o possível e o impossível. A realidade e a imaginação. O sonhado e o vivido.
Mas desses tenho uma vaga memória. O que lembro, com nitidez, é do meu primeiro amor. Começou secreto nas tardes de sábado e domingo, ainda as minhas pernas não chegavam ao chão. E logo no primeiro episódio, quando por necessidade de Estado Miguel Strogoff foi escolhido para levar uma mensagem ao irmão do czar da Rússia, governador da longínqua cidade siberiana de Irkustsk.
Os nomes, as razões e as causas da fantástica viagem do correio do czar pelas estepes da Rússia descobri mais tarde, quando li, de um fôlego, os dois volumes do romance do Júlio Verne. A cigana Sangarra, o vilão Ivan Ogareff, a revolta dos tártaros, o médico dissidente e os dois jornalistas - o inglês Harry Blount e o francês Alcide Jolivet - que seguiam a guerra de carroça.
Na lembrança, da série e dos meus cinco anos, ficou só o herói. O corajoso e leal Miguel Strogoff a quem, em silêncio, dediquei os meus melhores sentimentos. Sofri, amei, desejei o melhor e o pior. Por esse homem de ficção, encontrei coragem para assistir à tortura dos tártaros que, implacáveis, o cegaram com um ferro em brasa. Por ele, chorei lágrimas de tristeza e alegria, mas só descansei no último episódio, quando tive a garantia que casava com Nadia, fiel companheira de viagem.
A série acabou, com feliz final. Miguel Strogoff deu lugar a outras histórias, a outros personagens. Vieram os filmes de piratas e o Errol Flynn, de collants e chapéu de Robin de Bosques. As emissões coloriram-se, a tecnologia mudou e eu cresci. O que não mudou foi a memória desse herói. O valente militar da Rússia Imperial, cruzando povos e paisagens, resistindo a golpes e traições. Miguel Strogoff, correio do czar e meu primeiro amor. De ficção porque nos afectos vale o possível e o impossível. A realidade e a imaginação. O sonhado e o vivido.