As exigências de Cavaco Silva
A mensagem de Ano Novo do Presidente da República deve fazer-nos reflectir sobre aquilo que muitos pensam ser a idílica cooperação estratégico-institucional entre Belém e São Bento. É certo que Cavaco Silva tem sido um suporte responsável da política do Governo, mas é evidente que tem aqui e ali exercido a sua magistratura de influência. O envio da Lei de Finanças Locais para o Tribunal Constitucional, por ter dúvidas (já dissipadas) em dois dos artigos estruturantes, é um exemplo disso. Mas há outros. Os roteiros contra a exclusão, os encontros com empresários e uma presença temperada na cena política. Os exemplos mais importantes ficam, no entanto, escondidos atrás da porta nas reuniões de quinta-feira entre Presidente e primeiro-ministro, reuniões essas que o próprio Cavaco já reconheceu (a Maria João Avillez) usar para influenciar um pouco a política de Sócrates.
Agora, se é certo que ainda é cedo para avaliar o grau de intervenção e de influência que este Presidente irá querer ter - ainda nem sequer completou um ano de mandato -, também é verdade que Cavaco não será com Sócrates o que Soares foi com os seus governos. De Belém não se irão ouvir impropérios sobre ministros ou políticas, nem dali sairá a organização de um qualquer congresso "Portugal Que Futuro?"
De Belém está a sair, aos poucos, uma linha que Cavaco Silva gostava de ver implementada por este executivo. Ou por qualquer outro. A mensagem de Ano Novo contém esses sinais, assim como acredito que a primeira grande viagem de Estado à Índia irá ser um marco de como o PR pensa que o País pode desenvolver-se.
Mas vamos à mensagem: "É chegado o tempo de ultrapassar a fase de reduzido crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento". Cavaco a alertar para o fraco ritmo do crescimento (que Marques Mendes quer ver nos 3%).
"Vivemos num mundo globalizado, onde a concorrência entre as diversas economias é cada vez mais intensa. A Europa tem de competir com a China, a Índia e outros países asiáticos, onde a mudança é feita a um ritmo sem precedentes. Portugal só poderá estar entre os primeiros se souber adaptar-se a esta nova realidade. Temos de afirmar as nossas competências e provar que compreendemos o mundo complexo de que fazemos parte". O País tem de modernizar-se e apostar na inovação e nas novas tecnologias, defende o PR.
"Também neste ano de 2007, no seu segundo semestre, Portugal vai presidir ao Conselho da União Europeia. Trata-se de uma tarefa exigente, complexa e de grande responsabilidade. Mas a presidência da União Europeia será igualmente uma oportunidade, que tão cedo não se repetirá, para afirmar o prestígio de Portugal". Na liderança da UE, na segunda metade do ano, Cavaco quer trabalho e projecção do País. Não deverá querer protagonismos espúrios.
E agora aquela que acho a melhor tirada e o aviso mais certeiro para o executivo de Sócrates: "Os portugueses exigem realizações concretas. E o Presidente da República, no início deste ano de 2007, acompanha-os nessa exigência de resultados. É muito importante que em 2007 se registem progressos claros em, pelo menos, três grandes domínios da nossa vida colectiva: desenvolvimento económico, educação e justiça". Quem acha que o PR terá sido algo vago nas suas intenções, atente-se ainda a isto: "É crucial que 2007 fique marcado por uma recuperação do investimento". Esta frase significa que Cavaco Silva irá estar atento aos números e, nesse aspecto, o País agradece. O ano de 2006 fica marcado por uma série inacreditável e nunca vista de fecho de fábricas, deslocalizações e ameaças de dias sombrios para milhares de trabalhadores e respectivas famílias. Porque o País continua a não oferecer condições fiscais competitivas nem a ser cativante em termos de política pública empresarial.
Agora, se é certo que ainda é cedo para avaliar o grau de intervenção e de influência que este Presidente irá querer ter - ainda nem sequer completou um ano de mandato -, também é verdade que Cavaco não será com Sócrates o que Soares foi com os seus governos. De Belém não se irão ouvir impropérios sobre ministros ou políticas, nem dali sairá a organização de um qualquer congresso "Portugal Que Futuro?"
De Belém está a sair, aos poucos, uma linha que Cavaco Silva gostava de ver implementada por este executivo. Ou por qualquer outro. A mensagem de Ano Novo contém esses sinais, assim como acredito que a primeira grande viagem de Estado à Índia irá ser um marco de como o PR pensa que o País pode desenvolver-se.
Mas vamos à mensagem: "É chegado o tempo de ultrapassar a fase de reduzido crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento". Cavaco a alertar para o fraco ritmo do crescimento (que Marques Mendes quer ver nos 3%).
"Vivemos num mundo globalizado, onde a concorrência entre as diversas economias é cada vez mais intensa. A Europa tem de competir com a China, a Índia e outros países asiáticos, onde a mudança é feita a um ritmo sem precedentes. Portugal só poderá estar entre os primeiros se souber adaptar-se a esta nova realidade. Temos de afirmar as nossas competências e provar que compreendemos o mundo complexo de que fazemos parte". O País tem de modernizar-se e apostar na inovação e nas novas tecnologias, defende o PR.
"Também neste ano de 2007, no seu segundo semestre, Portugal vai presidir ao Conselho da União Europeia. Trata-se de uma tarefa exigente, complexa e de grande responsabilidade. Mas a presidência da União Europeia será igualmente uma oportunidade, que tão cedo não se repetirá, para afirmar o prestígio de Portugal". Na liderança da UE, na segunda metade do ano, Cavaco quer trabalho e projecção do País. Não deverá querer protagonismos espúrios.
E agora aquela que acho a melhor tirada e o aviso mais certeiro para o executivo de Sócrates: "Os portugueses exigem realizações concretas. E o Presidente da República, no início deste ano de 2007, acompanha-os nessa exigência de resultados. É muito importante que em 2007 se registem progressos claros em, pelo menos, três grandes domínios da nossa vida colectiva: desenvolvimento económico, educação e justiça". Quem acha que o PR terá sido algo vago nas suas intenções, atente-se ainda a isto: "É crucial que 2007 fique marcado por uma recuperação do investimento". Esta frase significa que Cavaco Silva irá estar atento aos números e, nesse aspecto, o País agradece. O ano de 2006 fica marcado por uma série inacreditável e nunca vista de fecho de fábricas, deslocalizações e ameaças de dias sombrios para milhares de trabalhadores e respectivas famílias. Porque o País continua a não oferecer condições fiscais competitivas nem a ser cativante em termos de política pública empresarial.