sexta-feira, novembro 17, 2006

O Sr. Lin e eu

Quase diariamente vou a uma tabacaria perto de casa comprar tridentes, cigarros em tempos de ressaca, jornais e material do género sazonal como carnavais, natais e dias que tais.
Pacientemente, o Sr. Lin, o proprietário chinês, deixa-me ler as revistas que quero e até alguns jornais, pelo tempo que me apetecer, sem muitas vezes levar nada.
Invariavelmente, quando abro qualquer uma destas coisas, acabam por ir parar ao chão um CD, 2 DVs, 6 separatas, 5 dossiers, 4 guias, 3 destacáveis, 2 suplementos, 2 facas cutipol, 2 pratos vista alegre, 2 chapéus e em épocas de Verão, 3 sacos de praia que se soltam do interior tanto dos jornais como das revistas.
O espectáculo é caótico com as folhas cada uma para seu lado, uma cliente a balbuciar as maiores desculpas e a tentar encaixar rápida e desordenadamente tudo de novo nos seus sítios.
O Sr. Lin, em vez de ter corrido comigo a primeira vez que isto aconteceu, não só permite resignadamente esta desordem, como pelo contrário, sorri e sai do balcão para me ajudar.
Desconfio que o Sr. Lin não fala nem escreve português, mas vai percebendo o suficiente para gerir a sua pequena superfície. Nunca soube nada da vida do Sr. Lin e como poderia saber? Reparo que entra cedo, sai tarde, nunca o vi zangado, mas também nunca o vi rir. Sempre me agradou a previsibilidade dos locais e das pessoas.
Infelizmente, o Sr. Lin não vende selos de correio. Entro num quiosque com a expectativa de me poupar a meia hora de espera depois de 50 cartas registadas com aviso de recepção. Habituada aos maus vícios do estabelecimento do Sr. Lin, vou folheando as revistas das Quartas, uma vista de olhos aos DVDs e aos livros desgarrados do kit dos jornais e mais um encontrão desajeitado aos postais ilustrados.
Quando perguntei se tinha selos, recebi em troca um sorriso tão satisfeito como vexatório: Não, não temos.
Percebido.