A força do cargo
Foi uma tristeza ver Cavaco Silva desfiar uma série de prudentes lugares-comuns, que qualquer político de segunda categoria sabe recitar de cor e salteado, na entrevista a Maria João Avillez. Ele nunca foi um orador brilhante, mas quando era primeiro-ministro, mesmo quando não dizia nada de jeito nas entrevistas, sabiamos que era um homem mais de acção do que de palavras. Só que agora a sua acção são discursos que só interessam a comentadores profissionais, e que se esquecem em três dias, roteiros pelo País sem resultados nenhuns, que se esquecem em dois dias, e mais cooperação silenciosa ou estratégica ou lá o que é com um Governo que ele considera "reformista", e mais uns seminários e umas medalhas, etc, etc. Perdemos alguém que ainda poderia dar, de facto, algo ao País, mudando-o como já o fez noutros tempos, por alguém cuja principal preocupação parece ser, como aliás aconteceu com todos os seus antecessores no cargo, conseguir alargar a base de apoio para a reeleição. E o pior é que provavelmente, por falta de opções e para evitar males maiores, eu vou voltar a votar nele.