A milhas
O que é espantoso no que se está a passar no PSD, com a discussão em torno da redução ou não do seu espaço político, depois da entrevista do Presidente da República à SIC, é a ausência notória de Marques Mendes de todo este debate.
Enquanto destacadas figuras do seu partido, entre ex-ministros, ex-líderes parlamentares, deputados e homens de várias tendências, começam a questionar o tipo de oposição a fazer, com o conceito de cooperação estratégica entre Belém e São Bento em marcha, o líder do PSD está do outro lado do Atlântico, numa "viagem oficial" (como dizia no outro dia uma televisão) ao Brasil. Oficial?
Os contornos e as vantagens de uma viagem destas explicam-se em duas penadas. Há pouco mais de quatro anos, José Manuel Durão Barroso fez exactamente o mesmo. Rumou ao Brasil, em busca de apoios (sobretudo financeiros, por causa da nova lei de financiamento dos partidos, que obriga à publicitação das contas relativas ao último ano antes da eleição) para a campanha que se aproximava e com a mesmas explicações de hoje. O líder do PSD precisa de encetar contactos com as comunidades portuguesas, o que se reconhece, mas ir para fora numa altura em que Cavaco e Santana dão entrevistas como as que deram, o partido discute internamente o rumo a seguir, a coligação na Câmara Municipal de Lisboa foi por água abaixo e há claramente uma aproximação entre PS e CDS no Parlamento (visível na abstenção das leis de Finanças Regionais e Locais), convenhamos que não foi a melhor ideia. A viagem estava preparada há um mês, Mendes não podia prever esta sucessão de acontecimentos, só que também não é normal que não haja segundas ou terceiras linhas e que tenha que ser o líder do partido a anunciar - à saída de um encontro com o "prefeito" do Rio de Janeiro - que o director da PJ e o novo PGR deviam ir à Assembleia da República explicar a estratégia nacional de combate à corrupção. Ou é? Se calhar já é normal.