O paizinho do público
Qualquer pessoa que tenha a ingrata tarefa de editar as páginas de programação televisiva, num jornal ou revista, sabe o que é «trabalhar para o boneco». As televisões não enviam programação atempadamente ou, quando o fazem, é para depois desfazerem introduzindo, retirando, antecipando ou adiando os programas. É uma má prática e que privilegia o mercado publicitário e a guerra da concorrência em detrimento dos espectadores. Não sei se estamos todos de acordo, mas parece-me que sim.
Aquilo com que não estou de acordo é que o Governo venha agora, através do ministro Santos Silva, defender o «público» e arengar com «a clarificação das obrigações dos operadores» como pretexto para enfiar mais umas notas no mealheiro e imiscuir-se na esfera privada de um negócio.
Coimas para os canais que alterem a programação 48 horas antes da emissão? Mas que diabo é isto? Santos Silva admite «alterações em condições excepcionais» desde que o «público seja prévia e adequadamente informado sobre os termos exactos». O público? Ou o Governo? Se a Assembleia da República aprovar uma coisa destas, vou bater à porta do Blasfémias.