Mais do mesmo
«Para mim, o dinheiro para a cultura é para bibliotecas, salas de espectáculo, orquestras, monumentos, museus, apoio à edição de clássicos, apoio esporádico a um ou outro artista, com provas dadas, que se encontre em dificuldades e, ainda mais esporadicamente, ao complemento de verbas para projectos específicos», escreve o nosso Duarte num comentário abaixo.
Estou de acordo em que o Estado subsidie tudo isso de que fala o Duarte, excepto artistas com provas dadas. É essa frase, aliás, que aproxima perigosamente a Cultura da lógica mercantil do «deve-se apoiar o que tem público». Ora, se tem público, não necessita de apoios. Se os artistas têm provas dadas, terão também necessariamente espectadores, ou audiência, ou leitores.
Não penses no entanto, Duarte, que defendo o Estado como sorvedouro para espectáculos de pseudo-vanguardas conceptualmente intelectualóides. O que defendo é que exista alguém capaz (mas quem?) de distinguir ao atribuir as suas verbas o valor artístico e cultural daquilo que subsidia. Que aposte em quem não deu provas porque o seu trabalho promete vir a dá-las. Que apoie quem tem algo a dizer de uma forma nova ou algo de novo a dizer com uma forma antiga. Mas que seja Cultura, que seja Arte, que seja Bom. Que crie públicos, para que depois o Estado se vire para outros que necessitem, de forma idêntica, do seu apoio. Abraço no contraditório, João.