Dupla humilhação
Fernando Pinto Monteiro estreou-se como procurador-geral da República com uma dupla humilhação. O magistrado que propôs para seu vice, Mário Gomes Dias, foi chumbado pelo Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), com nove votos de rejeição e apenas oito a favor. À segunda volta, o nome lá acabou por passar, mas da pior maneira, não superando os oito votos favoráveis. Cinco conselheiros voltaram a votar contra, dois preferiram votar em branco e três recusaram participar neste segundo escrutínio, alegando que já tinham exprimido antes a sua posição sobre o assunto.
Percebe-se mal o seguinte:
- Por que motivo Pinto Monteiro propôs um magistrado tão pouco consensual.
- Por que motivo manteve o nome, sujeitando-o a duas humilhações consecutivas no espaço de poucos dias e a uma aprovação tangencial, com menos de metade dos votos no CSMP.
- Por que motivo o conselheiro Gomes Dias não tomou a iniciativa de exigir que o seu nome fosse de imediato excluído mal recebeu o chumbo.
- Por que motivo, à boa maneira portuguesa, três membros do CSMP recusaram participar na segunda votação, acabando assim por legitimar uma escolha que manifestamente não subscreviam.
Em suma, todas as partes saem mal deste filme, que desprestigia ainda mais a justiça portuguesa. Recentemente o semanário Expresso traçou o perfil de Pinto Monteiro, sublinhando que na juventude era exímio em “cartas de amor” e mantinha ainda hoje o “gosto pela caça”. Esperemos que o caçador não acabe caçado. E que durante o seu mandato o desamor dos portugueses pela Procuradoria-Geral da República não se torne ainda mais acentuado, acabando por redundar numa separação irreversível.