A propósito do Mil Folhas
«E há uma coisa que devemos esclarecer: se excluirmos o Público, que mantém um excelente Mil Folhas quanto mais não seja por prestígio, o Expresso é o único jornal que tem um magnífico suplemento cultural, onde o espaço dedicado aos livros é significativo (e não se trata de duas páginas enfezadas sem qualquer sentido)», escreve Eduardo Prado Coelho hoje. Onde? No Público, esse jornal que mantém esse magnífico suplemento não porque os leitores o queiram ou por ser «magnífico» mas para prestigiar-se.
Ora bem, a referência às «duas páginas enfezadas» do Sol faz sentido. São-no de facto e o título «Hipermercado Cultural» diz tudo sobre o apreço do Arquitecto Saraiva pela área. Apesar de candidato ao Nobel, se o Arquitecto Saraiva tivesse levado a sua avante quando estava no Expresso , o Actual há muito tinha «ido à sua vida», para utilizar a expressão da nossa Ministra da Cultura.
Acontece que o espaço dado pelo Expresso está longe de significativo e 90% das obras têm direito a recensões com mil caracteres. Ou seja, dois parágrafos ou três. E os seus critérios de escolha ou os prazos dilatados de publicação (às vezes seis meses depois da edição) são tão desligados da realidade como uma estação orbital.
Por outro lado, no suplemento de prestígio isso não acontece. O Público está em discussão do seu projecto de remodelação e o Mil Folhas é o único, sim o único, caderno onde a literatura tem espaço, critério e qualidade indiscutível. Espero bem que continue. Mesmo que seja para prestigiar-nos a todos. Os que escrevem livros, os que os criticam e os seus leitores.