Mozart censurado
Depois das erupções de violência provocadas no mundo islâmico contras as caricaturas surgidas num jornal dinamarquês, depois dos apelos à morte em nome de Alá suscitados por uma citação descontextualizada do Papa, surge agora a autocensura ocidental em todo o seu esplendor: a vergonhosa retirada de cartaz da ópera Idomeneo, de Mozart, por decisão da direcção da Ópera de Berlim. Desta vez não foi preciso sequer haver protestos: bastou o vago temor de que os radicais islâmicos pudessem irritar-se com uma cena que mostra Idomeneu, rei de Creta, a exibir a cabeça decapitada de Maomé, no final do espectáculo. “Foi um erro retirar a ópera. É preciso dar prioridade à liberdade de expressão”, criticou a própria chanceler alemã, Angela Merkel. Em vão: 215 anos depois da sua morte, Mozart acabou mesmo censurado naquela que já foi uma das cidades mais livres do planeta. Na ópera, surgiam também as cabeças decapitadas de Buda e de Jesus. Mas isso não interessava nada: Maomé voltou a ser o problema.
Depois disto ainda haverá quem pense que a expressão “choque de civilizações” é exagerada?