De morangos já o Bergman falava
Eu, quando era miúdo, li tudo o que apanhei à mão. Na biblioteca dos meus pais e, quando se esgotaram, nas bibliotecas públicas. Certo dia, um bibliotecário quis impedir-me de requisitar livros porque, dizia ele, «não eram para a minha idade». O senhor, diga-se de passagem porque podia ser de outro partido qualquer, era comunista. Queixei-me em casa e tive carta branca para ler o que entendesse, com reprimenda severa à direcção da biblioteca.
Hoje, é a televisão. Codificar canais ou proibir ver, é não confiar no discernimento dos nossos filhos nem na educação que lhes damos. Entender esses programas e dar-lhes o enquadramento que merecem, é confiar na nossa capacidade de acompanhamento da contemporaneidade e da sociedade que temos, queiramos ou não que ela fosse diferente. O mundo sempre foi perigoso e perverso. Hoje, é-o mais claramente que ontem. E isso é bom. Não há redomas que o façam ser de outra maneira.
Por isso, caro João, eu dialogo, explico e digo o que tenho a dizer. Mas não codifico, nem proibo, nem me armo em Maria Filomena Mónica como se habitasse num Xanadu intocável pela realidade que me cerca e às pessoas com quem vivo. Não tome isto como um comentário pessoal. É apenas o respeito muito grande que me merece que faz com que o escreva. De coração aberto. E sem códigos.