Ibéria, nossa salvação? (crónica)
Helena Vaz da Silva comentava uma vez comigo que o que é verdadeiramente salutar na vida é preferirmos sempre a estação do ano que atravessamos. Apreciar sempre o presente, as divinas dádivas de cada momento ou época. Contra o choradinho do “sol que me faz falta”, do “antigamente é que era bom”, ou da fraca psique que “não suporta a escuridão dos dias invernosos”. Falava da mediocridade. Vindo que quem veio, ficou-me como lição.
Veio-me à memória esta conversa por causa da sondagem apresentada ontem pelo Sol, que reflecte a opinião de um velho partido que vê na União Ibérica a solução, a viabilização da nossa felicidade colectiva.
Tenho a dizer que estes 26% de cidadãos portugueses põem definitivamente à prova a minha calejada sensibilidade democrática. Conheço o discurso vindo de circunstanciais convivas, com argumentos mais ou menos elaborados. Uns consideram inclusivamente a existência de Portugal como um fenómeno antinatural. Outros, quando os oiço destilar as suas obtusas justificações, indicam-me tão só a sua imensa ignorância, como se revelam impotentes frustrados que acusam a contingência da sua nacionalidade como causa das suas limitações. Não será que quem não sabe dançar parece-lhe o chão estar torto? Além disso nunca percebi bem se este lírico ensejo de unidade ibérica incluiria todas as províncias espanholas com os seus distintos estágios de progresso social e económico.
Enfatizar constantemente a bela relva do vizinho ou a gratuita “merdização” da Mãe Pátria e suas circunstâncias parece-me atitude algo doentia. Esse discurso acompanha-se normalmente com apelos a equívocas soluções messiânicas, sejam a Monarquia, Oliveira Salazar ou qualquer redentora Espanholização do país. A mim parece-me que estes compatriotas que habitam um inviável país de criminosos, incompetentes e corruptos justificam desta forma a sua medíocre inabilidade e falta de ambição. No seu imaculado e desresponsabilizante limbo, desgastam as suas preciosas energias em lamentos e ódios pueris, em vez de, pela força dos seus braços e pelo exercício da sua vontade, meterem as mãos à obra.
E porque há muito que fazer, uma atitude positiva é um factor decisivo, tanto aqui como em qualquer das espanhas que me queiram vender.
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