Diálogo epistolar
Não tenho livros de auto-ajuda no sentido que agora se dá à designação, mas não prescindo de outros que dão auxílio a questões mais práticas da vida. Um deles é Cartas de Amor para Namorados que inclui «Os mais modernos modelos de declarações de amor (...)contendo também Como escolher mulher e Como escolher marido».
Esta última parte é-me favorável dado que, nascido em Novembro «darei um excelente marido» embora, muito amigo de fazer as minhas vontades, tenha tendência a tornar-me um tirano. Não posso negar nem uma linha. Hoje, leio este pungente diálogo epistolar:
«Ex.ma Sr.ª:
Viúvo de há um ano, apenas, arrasto uma vida infeliz com uma filha pequenina que, sendo o meu enlevo, me tortura porque não posso, de modo algum , substituir a mãe que ela perdeu.
Quis muito a minha mulher; e essa afeição que durante tantos anos lhe dediquei, são grantia para aquela que se dignar aceitar o título de esposa que estou pronto a dar-lhe.
V. Ex.ª é mais nova do que eu, é certo; mas mais próxima está da idade da minha garotita.
V. Exª. quererá ser a mãe amorosa, que a morte prematuramente lhe roubou?
Não supõe como lhe ficaria grato o meu coração, tanto mais que a sei boa e afectiva.
Ansioso por conhecer o seu desiderato, sou de V. Exª. F...»
A resposta, recomendada pela autora Maria Celeste, é a seguinte:
«Exº. Sr.
Agradecendo a sua carta, lamento não poder ser-lhe agradável.
Sou muito nova para tomar os encargos de mãe adoptiva, e não só tenho falta de experiência, como também de conhecimentos da vida de casados.
Embora goste imenso de crianças, não me sinto com forças para ocupar o lugar da sua falecida esposa e de ser madrasta da sua filha.
Creia que lhe falo com toda a lealdade, F...»
Ó desapiedada Maria Celeste, não podia ter recomendado às senhoras uma resposta mais simpática e compassiva? Tsc, tsc.