segunda-feira, agosto 07, 2006

Os intelectuais no mundo contemporâneo

Escreve Manuel Vicent, no El País de ontem: Albert Camus "era um escritor profundamente moral que soube perceber em devido tempo que o compromisso [do escritor] deve ser com os que sofrem a História, não com os que a fazem".
É esta a questão, que o raro exemplo de Camus tão bem ilumina: os intelectuais, testemunhas privilegiadas de qualquer época, deixam-se cegar excessivas vezes pelas luzes da ribalta política, esquecendo quantos sofrem na penumbra dos bastidores, no pó das ruas ou nas ruínas ainda fumegantes dos conflitos bélicos. Estar com os que suportam injustiças impostas por todas as cores e todos os credos devia ser um imperativo ético de qualquer intelectual. São cada vez menos, no entanto, os que mantêm a "profissão de fidelidade à literatura de escombro", de que nos falava Heinrich Boll, que também fez questão de estar sempre - como Camus - no sítio certo. "As pessoas sobre as quais escrevemos viviam nos escombros, vinham da guerra, homens e mulheres igualmente feridos, crianças também... e nós, os escritores, sentíamo-nos tão próximos delas ao ponto de nos identificarmos com elas", sublinhava em 1952 o grande autor alemão, galardoado vinte anos mais tarde com o Nobel da Literatura.
Quantos escritores hoje seriam capazes de afirmar o mesmo?