Paridade para cinco anos
Cavaco Silva promulgou hoje a segunda versão que o PS cozinhou para uma Lei da Paridade. A partir de agora as listas eleitorais terão de ter um mínimo 33% de mulheres (ou homens). Caso contrário, em vez de multas, o Estado vai à caça das subvenções estatais. A esquerda deve rejubilar neste momento, mas a verdade é que creio que o Presidente da República só promulgou para não haver crispação com o partido da maioria, visto que a questão sancionatória fica resolvida. E porque, sobretudo, a lei é revogável qualquer um destes dias - e isso deve deixar o centro-direita mais descansado. Não se conhece nenhuma nota do Presidente sobre a promulgação, nem tem de a fazer, mas para mim a razão principal para a lei não sofrer novo veto centra-se no artigo 8.º, sob o título "reapreciação": "Decorridos cinco anos sobre a entrada em vigor da presente lei, a Assembleia da República avalia o seu impacto na promoção da paridade entre homens e mulheres e procede à sua revisão de acordo com essa avaliação". Alguém tem dúvidas de que um novo veto a esta lei só está adiado no tempo, cooperação institucional oblige? Resta saber se será o próprio Cavaco Silva, que em situação normal nessa altura estará já na fase da reeleição, a reapreciar a utilidade das quotas. Alguns, como Marcelo e Durão, pensam que não. O primeiro deu o tiro de partida ao Expresso, este fim de semana, e teve o requinte de falar nos dez anos que faltam para cumprir o sonho (que antes era, desde pequenino, São Bento), embora secretamente pense e reze para que sejam só cinco. O segundo vai mandando recados pelos seus vários emissários políticos, cada vez melhor colocados, e gerindo a vida pós-Bruxelas. Mas isso já é outra conversa.