Bem visto
É óbvio que há nuances entre o que pensa o ministro dos Negócios Estrangeiros, o primeiro a lançar a lebre, o ministro da Defesa, que reforçou e muito o que disse o seu colega de Governo, e o que pensa o supremo magistrado da Nação. Que é também, parece que o Executivo se tem esquecido disso, o comandante supremo das Forças Armadas. Quando um Presidente diz que "é extemporâneo" falar-se neste momento no envio de tropas portuguesas para o Líbano e há dois responsáveis do Governo que não falam noutra coisa, está tudo dito. O que é ainda mais curioso é que quem põe água na fervura, passe a expressão, é o Presidente da República. Quando diz isto: "Como aliás o senhor ministro dos Negócios já teve ocasião de dizer, se essa questão nos for colocada, então será analisada, como tem acontecido com outras solicitações que nos chegam de organizações internacionais de que Portugal faz parte. Mas neste momento é extemporâneo estar já a falar sobre o assunto".
Algumas reflexões: 1) Se a questão nos for colocada, diz Cavaco. Ou seja, o PR não quer ficar fora da decisão, isso é claro como água. 2) Ao dizer que é extemporâneo, o PR diz não só que é cedo como diz que é preciso ter calma na forma como a questão é colocada. 3) Caso muitos não se lembrem, o Governo tem a responsabilidade da condução da política externa, mas é uma responsabilidade que pode ser partilhada com o PR, que não se limita assim a receber as credenciais dos embaixadores, a ir a recepções e a fazer umas viagens. Isso é o que consta da Constituição e o que decorre da prática das relações institucionais entre Governo e Presidente, quando se quer que as ditas relações sejam de cooperação. Caso contrário, é ir à história recente e lembrar casos como Sampaio-Cimeira dos Açores ou Soares-Acordos de Bicesse.